Dei-lhe um beijo:
- Até já, filho.
- Demoras muito, mãe?
- Demoro uma hora.
- Uma hora?.... Uma hora pequena ou uma hora grande?
Ficou-me um sorriso na cara e aquela pergunta no coração.
No relógio, a hora passa certinha, ordeira, metódica, previsível.
Dentro de nós o tempo passa incerto, turbulento e apressado, molengão, arrastado.
Na dor, a hora é comprida, longa. Na incerteza, é vaga. Acelera e trava. Puxa e empurra. Na alegria, saltita e passa rápida, leve. No amor, a hora não tem princípio nem fim. Começou, não sabemos onde. E, se acabou, não vimos quando.
Quando me separei, umas horas eram grandes, outras eram pequenas. Surpreendeu-me o tamanho das horas. Grandes de dia. Pequenas à noite. Pequenas quando acompanhada. Grandes, sozinha. Longas de tristeza e zanga. Curtas de paz.
Mas sempre, sempre, certinhas e ordeiras, como no relógio, na esperança de que um dia, longe ou perto, eu não voltaria a ter que ser salva pelos ponteiros.
Deixei de contar os meses e os anos. E esse dia chegou. Não sei quando. Mas chegou.
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