Parecia-me tão claro que estávamos melhor assim.
Parecia-me indiscutível que ter os pais separados, cada um em sua casa, era a opção mais saudável a uma relação que não nos servia, que já não nos acrescentava, que já não tinha lugar para viver o que desejava profundamente viver e ser o que há muito me tinha esquecido que era…
Era nítido, para mim, que estávamos melhor assim. Não por estarmos, de facto, melhor. Muita coisa se estava a alterar, estávamos num carrocel emocional, no vai-e-vem da dor e da esperança, em loops inesperados. A surpresa, a indignação, a zanga, alternavam com a compaixão, a tristeza, o cansaço…
Nesses primeiros meses, era nítido, para mim, que estávamos melhor assim. Não por estarmos melhor, mas por ter a CERTEZA que assim seria, num futuro próximo.
Durante algum tempo, tive dificuldade em compreender porque é que os meus filhos não conseguiam reconhecer que assim estávamos melhor, tive dificuldade em aceitar os movimentos deles de tentarem aproximarmo-nos, tive dificuldade em aceitar a sua tristeza… esta dificuldade era interna, minha, não partilhada.
Nunca lhes disse que não compreendia, mas não compreendia.
Não compreendi até ao dia em que o meu filho, encostado a mim, no sofá, ao lado dos irmãos, me disse, numa tarde serena e doce:
«Sabes, mamã… quando estou contigo, sinto a falta do pai…»
(o meu coração contraiu-se, ficou pesado)
«Quando estou com o pai, sinto a tua falta…»
(gelei)
«Nunca estou bem. Esteja onde estiver, falta sempre um de vocês…»
Os irmãos anuíam silenciosamente.
(compreendi, aqueci e aceitei)
Continuou a ser indiscutível, para mim, que ter os pais separados, cada um em sua casa, era a opção mais saudável a uma relação que não nos servia.
Continuou a ser nítido, para mim, que estávamos melhor assim.
Mantive a CERTEZA que assim seria, num futuro próximo.
Mas percebi que, no processo de ganhar, também se perde…
E os meus filhos tinham perdido uma coisa muito importante para eles: estarem com ambos os pais em simultâneo.
Ainda não conseguiam (ainda não podiam!) ver o que estavam a ganhar… ainda só sentiam o que estavam a perder...
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