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Mãe Coragem

Atualizado: 10 de mar. de 2022


Sexta-feira foi dia de sessões individuais. Coincidiu, por motivos vários, convergirem na minha agenda, apenas sessões individuais de mães.


Histórias, rostos, emoções, intenções, idades, vontades, sucedem-se no ecrã do computador; ocupam a totalidade do momento, da atenção… uma atenção conjunta, plena, entregue.


No final da manhã, desligo o computador e sou imediatamente arrebatada pelo deslumbramento; ecoa em mim: «mãe coragem, não desistas. mãe coragem, não te conformes. mãe coragem, não permitas que te transformem em quem não és».

Abraço-a mentalmente. Um abraço apertado.


A M.A., a mãe coragem, resgatou a sua vida há poucos meses [muito poucos, quando penso nos que serão necessários para se reencontrar com a sua paz; imensos, sabendo a luta que trava a cada dia que passa]


A mãe coragem, é mãe de uma criança pequena; é dona de um coração gigante, que teimou em acreditar, em amar, em tentar. Esgotou-se nas tentativas, acabou-se na solidão. E nesse dia, continuou… de coração gigante, saiu da casa onde não podia ser quem era, onde a manipulação, a distorção, a confusão, a humilhação eram as ferramentas usadas para a talhar à medida do seu agressor psicológico. Falhou, ele. Falhou, o desamor. Falhou, o desfazer do que ela é feita: de coragem e de amor.


Agora, livre, fica-lhe agrilhoada, em nome do amor pela sua criança; numa residência alternada, procura encontrar as soluções que servem o seu bem maior: aquele ser pequenino. Cria, inventa, reescreve alternativas, estratégias, possibilidades… pedem-lhe que se entendam, recusando entenderem-na.

Ela, mãe coragem, consegue o que ele é incapaz: preservar o seu bem maior da sua frustração, irritação, desespero, cansaço… entregando-lhe em doses descompassadas, ao ritmo da alternância de residências, a paciência e o colo onde descansa a saudade.


A M.A. tem um diário, que visita quando a distância e o esquecimento tornam inverosímil aquela parte da sua história, o seu casamento… quando o seu coração gigante vai apagando a dor e a faz duvidar que alguma vez viveu assim: ao som da confusão mental e da dor emocional. A cada visita, certifica-se que não enlouqueceu, recorda-se do que viveu… e continua: coragem, gigante, com uma sabedoria anciã, acelerada pela vida.


Não lhe peçam mais que se entendam, não lhe digam que vai passar, que é uma fase.


Que a coragem e o amor continuem a ladear o seu caminho, tenhamos nós a coragem e o amor de não lhe pedir mais.


A Separação e o Divórcio podem ser a alternativa mais saudável e construtiva para quem tem que conviver e relacionar-se com pessoas com Personalidade Altamente Conflituosa (PAC); uma alternativa penosa e exigente, à qual não devemos acrescentar os preceitos culturais, idealizados e romantizados, do que é uma relação parental, do que é um pai ou uma mãe.

A estas mães e a estes pais, que continuam a ter que lidar, à distância de um filho, com um progenitor com uma PAC, estenda-se uma mão, depois a outra e, num abraço, libertemo-los da nossa expectativa irreal de uma coparentalidade idealizada pelo nosso medo, pela nossa incapacidade de mudar quem não quer (ou não pode) mudar.


A M.A., mãe coragem, e a todas as mães e pais que, para mim, representa: BRAVO! BRAVO!

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