Cada filho é um universo.
É um universo que começa cedo; que começa logo; que começa ainda antes de o sentirmos a começar.
Com cada filho que me nasceu, abriu-se um universo inteiro; foi-se abrindo um universo inteiro; um universo que continua em expansão, em crescimento, em descoberta, em construção.
Quando nasceu o meu primeiro filho, pensei que aquele era o universo dos filhos. Deslumbrou-me na exata medida que me inquietou.
A inexperiência misturava-se com a alegria e a beleza de estar neste novo espaço, em que o mundo passa a ter outros contornos, outros valores, outras prioridades.
Sentia-o, pensava-o, observava-o e, de alguma forma, ia sabendo que sabia…
Quando nasceu o meu segundo filho, percebi que afinal aquele não era o universo dos filhos. Inquietou-me na exata medida que me deslumbrou.
Agora a inexperiência já não era tão inexperiente; já não era suposto sê-lo!?; mas foi. Agora a inexperiência de um filho misturava-se com a experiência do outro e eu pensei que era o universo dos filhos expandido, aumentado, actualizado, diversificado.
Sentia-o, pensava-o, observava-o e, de alguma forma, ia sabendo que não sabia… ia aprendendo a não saber…
Quando nasceu o meu terceiro filho, percebi que afinal não havia universo dos filhos. Não me inquietou, por isso. Inquietou-me o meu limite (são três; só tenho duas mãos para os segurar, os amparar…).
Enquanto coube no sling, no pano enrolado em mim, estendeu-se a precária certeza de que eu ia ser suficiente… quando o desejo de explorar o mundo e de se explorar a si cresceu com ele, orbitavam os três, neste colo estendido, que já não cabia no pano. Em ambientes estranhos, em multidões ou avenidas com trânsito, em ruas que cheiravam a insegurança, sentia-me pouco, as minhas mãos não chegavam para todos; ficava em contacto directo com a certeza absoluta, que eu tentava relativizar, que a sua segurança não depende só de mim, que as minhas mãos não chegam para os segurar.
Cada um foi aprendendo a segurar-se em mim, ora numa das mãos livres ora, se já não havia, agarrado a um pulso, a partilhar uma mão com a outra que chegou primeiro, abraçado a uma perna ou agarrado ao meu casaco…
Quando nasceu o meu quarto filho, confirmou-se em mim: não existe o universo dos filhos; cada filho é um universo. Percebi.
Maternar passou a ser navegar entre quatro universos, descobrir cada um, aprender sobre cada um e, em cada um, ir-me descobrindo.
Maternar passou a ser sobre desaprender, aprender a não saber e aprender a aprender. E a ir, mesmo sem saber. Sabendo que, até quando parece que não sou suficiente para os segurar, eles são suficientes para se saber agarrar… assim eu esteja lá, assim eu saiba como chegar lá…
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