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Amor, já não te quero beijar


«Amor, quero beijar mais pessoas»,

assim terá dito o Diogo Faro à Joana Brito Silva, ou a Joana ao Diogo… ou então não!


Pode não ter sido um que disse ao outro. Pode ter sido uma formulação que foram percebendo, questionando… na realidade não, sei. Presumo, do que vi na peça, no Villaret, que terá sido uma revelação elaborada da partilha de experiências, vontades, dúvidas e da reflexão sobre antropologia, convenções, cultura, hábitos… enfim, o que embeleza (ou não! vai dos gostos…) a nossa animalidade.


«Amor, quero beijar mais pessoas»

Gosto da síntese.

Gosto da honestidade, da clareza, do minimalismo (da frase, não da intenção): «Amor, quero beijar mais pessoas».

 

Foi um presente de aniversário, que há tempos ganhou a modalidade de: um por todas, todas por um! (pelo presente, claro!).


 

[Como funciona? Fácil. Uma de nós faz anos. As outras escolhem um espetáculo ou evento artístico e/ou cultural (música, teatro… o que for!) que creem que a aniversariante irá gostar. Oferecem-lhe, em conjunto, a entrada e cada uma compra o seu ingresso para a acompanhar. 😊 e, assim, vamos celebrando em vários actos os nossos nascimentos, na modalidade exacta do que é ir nascendo… aos poucos, por partes, com várias pessoas. Se o nosso parto é num dia, o nosso nascimento é em vários… mas isto sou eu! Em divagações delirantes, que teimam em dar sentido e coesão a decisões emocionais que, anarquicamente, recomponho para que se apresentem como racionais… seja como for, gosto. Gosto de nos celebrar, em partes, por partes, juntando-nos em à partes de cultura e arte, de espectáculos, luzes e sons. Gosto. Muito.]


 

Foi Outubro. Celebrei o meu nascimento. Elas também o festejaram. Fomos festejando, o que fomos nascendo, aos poucos, por pouco…


Chegou Dezembro. Voltamos a sentar, a celebrar. No Banzé foi o brinde, no Villaret o deleite. Alinhadas em cadeiras que mantêm a ordem da desordem que nos trouxe (haja alguma, nem que seja a das cadeiras).


A fotografia da praxe. Não estamos todas, raramente assim é. Mas vamos estando umas ou outras, completando o que não tem complemento, mas que o representa. A fotografia fica péssima, voltamos os ângulos, arranjamos cabelos… e não há forma do telemóvel celebrar connosco a beleza que vemos e sentimos.

Não faz mal.

Já rimos na antecipação, na alegria de ir festejando em partes os partos, do que fomos nascendo e vivendo… em vidas paralelas que concorrem e intercetam nesta amizade quente e boa que não lhe apanhamos o fio à meada...

 

«Amor, quero beijar mais pessoas»

Gosto da síntese.

Gosto da honestidade, da clareza, do minimalismo.

Gosto de gostar.

E de estar ali. Uma por todas, todas por uma. Celebrando e nascendo, caminhando este caminho, de viver o que nos acontece e fazemos acontecer.

 

«Amor, já não te quero beijar»

Ocorre-me. Sorrateiro e repentino. Põe-se, impõe-se. Instala-se. Regala-se e sorri.


«Amor, já não te quero beijar»

Assim. Doce. Gentil.

 

«Amor, já não te quero beijar»

A síntese, a ternura, a beleza de transformar o que temos tido e já não quero… do que não tenho tido e, agora, espero…

Gosto da síntese. Do minimalismo. Da doçura de fechar, em voltas quentes e peganhentas, o que fomos tendo e vivendo…

 

«Amor, já não te quero beijar» - enternece-me a simplicidade, a leveza, a generosidade… tenho saudade desse tempo em que acabou o tempo de estarmos no tempo um do outro. Tenho pena da desfeita do momento, em que por um instante te anuncio o que vem estando anunciado. Sem poupança no esforço de ignorares, esgoto-me em te revelar o que há muito foi revelação. Complexo, penoso, cheio… enche e transborda o que consegues aguentar, o que eu consigo entregar. Explicação inexplicável, síntese por sintetizar… «Amor, já não te quero beijar»  

 

Baixam as luzes até ao apagar.

O fumo entra, o pensamento sai…

…a peça começa.

«Amor, quero beijar mais pessoas»

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